Parlamento britânico discute insultos a actriz indiana que participa no reality show A entidade reguladora dos media britânicos, o Ofcom, já recebeu cerca de 14.500 queixas por comentários e intimidação alegadamente racista sobre uma concorrente do Big Brother Celebridades que o Channel 4 está a emitir. O caso já chegou ao Parlamento britânico, para o ministro das Finanças, Gordon Brown, reiterar que o Reino Unido deve ser visto como "uma nação de justiça e tolerância". A Índia, país originário da visada pelos insultos, está a analisar a situação, que pode desembocar numa crise diplomática. O próprio canal já tinha recebido, até ontem, cerca de duas mil reclamações pelo mesmo motivo, o que aproxima este caso da polémica com o recorde de queixas da televisão britânica contra o programa Jerry Springer: The Opera. Tratou-se de um musical, transmitido pela BBC2, baseado no programa norte-americano e que continha grandes doses de linguagem obscena e até um número de sapateado com membros do grupo supremacista e racista Ku Klux Klan. As queixas contra a quinta edição do reality show Big Brother com celebridades estão a ser alimentadas não só por espectadores indignados, mas por várias páginas na Internet de fãs do formato e pelos indianos. Isto, por que no centro da polémica está a concorrente Shilpa Shetty, uma estrela do cinema indiano de Bollywood, que tem sido alvo do sarcasmo das companheiras de casa Jade Goody, ex-concorrente do Big Brother original, Danielle Lloyd, ex-miss Reino Unido, e Jo O"Meara, ex-membro do grupo pop televisivo S club 7. Em causa estão comentários jocosos do trio quanto ao sotaque indiano do inglês de Shilpa Shetty, discussões frequentes com a actriz e frases dúbias sobre os indianos em geral. O caso está a gerar debate no Reino Unido e um deputado trabalhista, Keith Vaz, entregou uma moção no Parlamento para o debater. Ontem, na sessão de perguntas ao primeiro-ministro, Tony Blair foi interpelado por Vaz sobre a chegada de mensagens preconceituosas a milhões de espectadores. Blair explicou que não viu o programa, mas frisou: "Devemos opor-nos ao racismo em todas as suas formas." O seu potencial sucessor, Gordon Brown, que visitou recentemente a Índia, comentou que foi lá que teve conhecimento do grande número de queixas suscitado pelo programa. E o secretário de Estado do Tesouro, Ed Balls, disse à BBC2 que a questão está a transmitir uma imagem "revoltante" do país ao mundo. Na Índia, o caso está nas primeiras páginas dos jornais, são mostrados excertos do programa nos noticiários e em Patna, no leste do país, decorreu uma manifestação dos fãs da actriz visada pelos concorrentes britânicos. Os insultos Esta semana, Jo O"Meara disse repetidamente que os indianos são magros por não cozinharem o suficiente a sua comida e as três mulheres queixaram-se que Shilpa Shetty tinham tocado nos alimentos dos outros concorrentes com as suas mãos. "Não se sabe onde é que aquelas mãos andaram", indignou-se Danielle Lloyd. As três britânicas ainda chamaram "cadela" à actriz indiana e a mãe de uma delas que, como é tradicional no formato da Endemol, está em estúdio uma vez por semana, limita-se a chamar Shilpa Shetty "a indiana", recusando-se a dizer o seu nome. O que fez a polémica e as queixas subirem de tom foi um aparente mal-entendido. Um outro concorrente, Jack Tweed, envolveu-se numa discussão com a actriz indiana e tê-la-á insultado com uma palavra obliterada pelo Channel 4, mas que na Internet se dizia ter sido "paki", uma típica injúria racista contra os asiáticos. O canal já esclareceu que o que Tweed chamou a Shetty foi, afinal, "ca*ra" (a tradução possível e publicável para "o pior" dos palavrões ingleses, c**t). Joana Amaral Cardoso Público, 18 Janeiro 2007 |