«Onde estava a humilhação? Nos gritos dos presentes? O que eles fizeram foi essencialmente rezar e suplicar por ele», disse Mowaffak al-Rubaie, conselheiro iraquiano para a Segurança, em entrevista à CNN.
Condenado à pena de morte a 5 de Novembro por «crimes contra a Humanidade», Saddam Hussein foi enforcado sábado de madrugada numa caserna em Bagdad.
A execução do ex-presidente iraquiano provocou uma onda de indignação e poderá alargar ainda mais o fosso entre as comunidades sunita e xiita, sobretudo depois da divulgação, na Internet, de um vídeo pirata do enforcamento de Hussein.
As imagens, tiradas com a câmara de um telemóvel, mostram a execução em todos os pormenores e revelam que alguns dos participantes gritaram o nome do líder radical xiita Moqtada Sadr.
Outros dos presentes invectivaram Saddam nos últimos instantes de vida, ouvindo-se gritos de vingança logo após a morte do ex- ditador.
As autoridades iraquianas divulgaram no próprio dia um vídeo oficial da execução - alguns segundos de imagem, sem som, mostrando os últimos momentos de Saddam - mas, no domingo, foi colocado na Internet um vídeo pirata de mais de dois minutos em que se mostra o enforcamento até ao fim.
Este vídeo completo da execução, transmitido primeiro pela televisão árabe por satélite Al-Jazira e depois por vários canais estrangeiros, suscitou protestos entre a minoria sunita iraquiana e a indignação de dirigentes de todo o mundo.
Terça-feira, o governo iraquiano anunciara ter aberto um inquérito para determinar quem fez a gravação, aparentemente com um telemóvel, e quem a difundiu, tendo anunciado quarta-feira a detenção de um dos guardas presentes no enforcamento.
«Alguns espectadores mencionaram o nome de Moqtada. E ele (Saddam) respondeu-lhes. Não vejo onde está a humilhação», comentou Mowaffak al-Rubaie.
«Moqtada, Moqtada, Moqtada» não é um insulto, não é uma palavra obscena, eles não o estavam a insultar. Sei que não é legal e que foi um erro, mas foi a crença deles», justificou.
«Quando deixei a sala estava seguro de que tudo o que tinha acontecido tinha sido de acordo com as regras. Mas com o vídeo, vi que foram cometidos erros e isso tem de ser levado em conta. Temos de agir neste caso», acrescentou o responsável iraquiano.
Interrogado sobre uma dança efectuada por alguns dos presentes na sala, em torno do corpo de Saddam, Mowaffak al-Rubaie disse ter pensado que seria uma tradição dos iraquianos.
«Eles dançam em volta do corpo e manifestam os seus sentimentos. Onde é que está o problema?», perguntou.
Mowaffak al-Rubaie disse ter visto vários telemóveis empunhados por alguns dos presentes mas desmentiu ter um com ele nessa altura, como já foi aventado por várias entidades.
Explicou que o governo tinha decidido divulgar um vídeo oficial da execução para mostrar ao mundo que a pensa de morte tinha sido cumprida e para evitar especulações.
Lusa/SOL