A Aliança das Civilizações é o tema central do seminário «Aliança de Civilizações, Aliança pela Paz», organizado pela World Islamic People Leadership (WIPL), considerada a maior organização muçulmana mundial.
Yusuf Fernandez, porta-voz da WIPL, disse à Agência Lusa que o seminário quer desenhar um conjunto de propostas que possam posteriormente ser levadas a Jorge Sampaio e à Aliança das Civilizações para consolidar a iniciativa.
Para o responsável da WIPL, a escolha de Jorge Sampaio é «muito positiva» , tanto pela personalidade do ex-Presidente, como pelo papel que Portugal tem tido no diálogo entre culturas e civilizações.
«É uma pessoa que se comprometeu desde há muito na defesa do diálogo de culturas e civilizações. E Portugal sempre gozou da amizade do mundo islâmico», afirmou.
Relativamente ao projecto da Aliança das Civilizações em si, Fernandez sustenta que o diálogo, elemento central da iniciativa, é a «única via para garantir que o mundo se desenvolva em paz».
No início do encontro, o secretário-geral da WIPL, Mohammed Ahmed Sheri, defendeu que a Aliança das Civilizações deve apostar em avançar com «medidas concretas», garantindo que «as boas intenções chegam ao seu objectivo».
«Temos que passar à prática e deixar de lado a teoria. Por isso é fundamental difundir esta ideia entre a sociedade civil para que a sociedade tome esta visão como sua», sublinhou.
Para Sherif, a iniciativa liderada agora por Jorge Sampaio é «uma aliança contra o fascismo e o desconhecimento entre as diferentes culturas do mundo».
«O contacto entre as pessoas e a educação são fundamentais para garantir a aplicação no terreno destas medidas. Mais tarde ou mais cedo, temos todos que viver juntos em todos os aspectos, culturais e religiosos, políticos e sociais», sublinhou.
Considerada a organização internacional muçulmana mais importante do mundo, a WIPL agrupa mais de 400 organizações islâmicas, partidos políticos e organizações não-governamentais, representando milhões de muçulmanos em todo o mundo.
Espanha foi escolhida para acolher o encontro, segundo os organizadores, por ter promovido a Aliança das Civilizações, uma iniciativa que conta com o apoio da Turquia e que foi apadrinhada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que nomeou Jorge Sampaio para a liderar.
Yusuf Fernandez sustentou que a WIPL aposta na «defesa da paz, no diálogo das civilizações e na luta contra qualquer radicalismo», promovendo a ideia de que «os muçulmanos devem estar na vanguarda da luta pelo diálogo e pela paz (...), valores contemplados pelo próprio Islão».
Admitiu que passar esta mensagem mais moderada nos países muçulmanos tem sido «difícil», em particular porque os orçamentos limitados e a escassez de meios impedem mais acções, daí que apostem agora «em cooperações com outras entidades».
No que toca ao mundo ocidental, Fernandez insistiu na necessidade de combater o «clima de islamofobia» que existe em alguns países e que considerou «o anti-semitismo do século 21».
«Há que recordar que as mensagens de xenofobia e ódio que os judeus sofreram nos anos 30 culminaram depois com o holocausto. Não queremos ver isso a repetir-se, tendo agora como alvo os muçulmanos», afirmou.
Apesar da exclusão e discriminação, Fernandez admitiu que uma outra corrente tem ajudado a promover «uma consciência de luta contra a islamofobia e pelos direitos dos muçulmanos».
No encontro de Córdoba estão os principais responsáveis do comité executivo da WIPL, entre eles Sheij Ibrahim Saleh Al-Husayni (Nigéria), como representante de África, Amad Sahwqui Al-Hefni (Egipto), em representação do mundo árabe, Haroun Salamat (Canadá), pela América do Norte e Din Syamsuddin (Indonésia), pela Ásia.
Dividido em quatro sessões, o encontro contará com a participação de vários responsáveis do governo espanhol, analisando questões como o diálogo inter-religioso, a convivência e medidas de cooperação para fortalecer o diálogo entre civilizações.
Além de responsáveis islâmicos, participam no encontro o teólogo católico Juan José Tamayo e o mestre budista Dokusho Villalba.
Recorde-se que a WIPL é actualmente presidida pelo Presidente líbio, Muammar Kadhafi, tendo a sede em Tripoli.
A organização tem ajudado a potenciar nos últimos anos a corrente sufi, considerada a mais moderada dentro do islamismo, acolhendo organizações de diversas tendências e promovendo a prática de um Islão «moderado, de diálogo e cooperação com as outras confissões e a contextualização da mensagem do Alcorão aos tempos actuais».
Entre as medidas que promove, a organização defende que mulheres e jovens devem assumir cargos de responsabilidade dentro do Islão, tendo repetidamente condenado a violência do fanatismo islâmico.
Diário Digital / Lusa